Salvatore
Quasimodo (20/8/1901-14/6/1968), poeta, tradutor e crítico italiano. Nobel de
Literatura (1959). Nascido na Sicília, filho de um ferroviário, inicia os seus
estudos na cidade de Siracusa. Forma-se matemático em Palermo e, mais tarde,
conclui o curso de engenharia em Roma. Ganha a vida como
engenheiro e funcionário público nos dez anos seguintes e escreve poesia nas
horas vagas até 1935, quando abandona a carreira para ensinar literatura
italiana em Milão.
Os seus
primeiros poemas, publicados num jornal literário de Florença, revelam a sua
ligação com os poetas herméticos Giuseppe Ungaretti e Eugenio Montale. São
versos curtos, de estilo sofisticado, sobre temas pessoais, próprios do
intimismo dos poetas herméticos.
Com a publicação
da primeira coletânea de poesias Águas e Terras (1930), assume
gradativamente a liderança dessa tendência literária até os anos 40. A sua fase
hermética termina com o final da II Guerra Mundial e a publicação de Dia
Após Dia (1947). A partir daí, detém-se sobre as injustiças
do regime fascista e os horrores do conflito mundial. Publica A Terra Incomparável (1958), Toda Poesia (1960) e O Dar e o Ter (1966).
Quasimodo é
responsável também por traduções para o italiano de escritores clássicos, como
Sófocles e Eurípedes, Catulo, Ovídio e Virgílio, e contemporâneos, como o
norte-americano E.E. Cummings e o chileno Pablo Neruda.
NÃO
PERDI NADA
Estou Aqui agora, o sol gira às minhas costas como um falcão e a terra
repete minha voz na tua.
Recomeça o tempo visível
no olho que redescobre a luz.
Não perdi nada.
perder é andar mais além
de um diagrama do céu
em movimentos de sonhos, um rio
pleno de folhas.
INVERNO ANTIGO
Desejo de tuas mãos claras
na penumbra da chama:
sabiam a carvalho e a rosas;
a morte. Inverno antigo.
Buscavam o milho os pássaros
e de repente eram de neve;
igual as palavras.
Um pouco de sol, uma auréola de anjo,
e depois a névoa; e as árvores,
e nós feitos de ar pela manhã.
AGUAMORTA
Água estagnada, sonho dos pântanos
que em longa lâmina maceras veneno,
ora branca ora verde nos relâmpagos,
te assemelhas a meu coração.
O álamo se acinzenta em torno do azevinho;
as folhas e as bolotas se aquietam dentro,
e cada uma tem seus círculos de único centro
franzidos pelo profundo zumbido do vendaval.
Assim, como sobre a água
a lembrança estende seus anéis, meu coração;
se move de um ponto e logo morre:
assim tua irmã é águamorta.
Água estagnada, sonho dos pântanos
que em longa lâmina maceras veneno,
ora branca ora verde nos relâmpagos,
te assemelhas a meu coração.
O álamo se acinzenta em torno do azevinho;
as folhas e as bolotas se aquietam dentro,
e cada uma tem seus círculos de único centro
franzidos pelo profundo zumbido do vendaval.
Assim, como sobre a água
a lembrança estende seus anéis, meu coração;
se move de um ponto e logo morre:
assim tua irmã é águamorta.
(do
livro "Acque e Terre",1920-1929)
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