O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quarta-feira, 20 de março de 2013

Quasimodo


Salvatore Quasimodo (20/8/1901-14/6/1968), poeta, tradutor e crítico italiano. Nobel de Literatura (1959). Nascido na Sicília, filho de um ferroviário, inicia os seus estudos na cidade de Siracusa. Forma-se matemático em Palermo e, mais tarde, conclui o curso de engenharia em Roma. Ganha a vida como engenheiro e funcionário público nos dez anos seguintes e escreve poesia nas horas vagas até 1935, quando abandona a carreira para ensinar literatura italiana em Milão.
Os seus primeiros poemas, publicados num jornal literário de Florença, revelam a sua ligação com os poetas herméticos Giuseppe Ungaretti e Eugenio Montale. São versos curtos, de estilo sofisticado, sobre temas pessoais, próprios do intimismo dos poetas herméticos.
Com a publicação da primeira coletânea de poesias Águas e Terras (1930), assume gradativamente a liderança dessa tendência literária até os anos 40. A sua fase hermética termina com o final da II Guerra Mundial e a publicação de Dia Após Dia (1947). A partir daí, detém-se sobre as injustiças do regime fascista e os horrores do conflito mundial. Publica A Terra Incomparável (1958), Toda Poesia (1960) e O Dar e o Ter (1966).
Quasimodo é responsável também por traduções para o italiano de escritores clássicos, como Sófocles e Eurípedes, Catulo, Ovídio e Virgílio, e contemporâneos, como o norte-americano E.E. Cummings e o chileno Pablo Neruda.

NÃO PERDI NADA
Estou Aqui agora, o sol gira 
às minhas costas como um falcão e a terra
 
repete minha voz na tua.
 
Recomeça o tempo visível
 
no olho que redescobre a luz.
 
Não perdi nada.
 
perder é andar mais além
de um diagrama do céu
em movimentos de sonhos, um rio
 
pleno de folhas.
 
 
 
INVERNO ANTIGO
 
 
Desejo de tuas mãos claras
 
na penumbra da chama:
 
sabiam a carvalho e a rosas;
 
a morte. Inverno antigo.
 
 
 
Buscavam o milho os pássaros
 
e de repente eram de neve;
 
igual as palavras.
 
Um pouco de sol, uma auréola de anjo,
 
e depois a névoa; e as árvores,
 
e nós feitos de ar pela manhã.
 


AGUAMORTA 

Água estagnada, sonho dos pântanos
que em longa lâmina maceras veneno,
ora branca ora verde nos relâmpagos,
te assemelhas a meu coração.
O álamo se acinzenta em torno do azevinho;
as folhas e as bolotas se aquietam dentro,
e cada uma tem seus círculos de único centro
franzidos pelo profundo zumbido do vendaval.
Assim, como sobre a água
 
a lembrança estende seus anéis, meu coração;
se move de um ponto e logo morre:
assim tua irmã é águamorta.
(do livro "Acque e Terre",1920-1929)



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