O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sexta-feira, 23 de março de 2012

o princípio de m. c. escher (II)

day and night - m. c. escher
é quando as aves brancas voam para a noite que
as aves negras voam para o dia, sobre as árvores, no vento, vão
em bandos, batem asas pausadas. sobre as árvores
as aves brancas tomam a noite clara, as negras,
apostas companheiras, escurecem o dia, voam baixo,
no ar para onde fogem ocupando o intervalo
das outras, e as brancas  cortam o espaço, exactas guias,
entre o voo das pretas. bandos, bandos
de oposto movimento, na luz de transição,
, onde se cruzam, voam
aves cinzentas para os dois lados, no lugar indeciso
em que das matérias do ar e da chuva
se elevam as árvores dessa parda fronteira, e
sobre todas as árvores da paisagem, da matéria da noite, deslocada
se formam as aves negras. as brancas giram altas e agudas, feitas
da substância do dia que transpõem. imitativo e permutante é o
voo das aves e aqui, nas caudas do vento, a terra estreita-se:
de passarem baixas as aves negras, todas
mudaves, negras, á cousas todas vás, á brancas
aves de suaves claves, ides tão acima dos graves
cuidados, das fundas soledades, vai tão fluido
o vosso sobrevoo, aves cinzentas sobre o vale pairando
equidistando do sol e da lua, tudo é tão transitório
e tão roubado ao tempo. á aves condutoras, sonora companhia, sois 
tema e contratema, resposta e episódio, espirais dissonantes
de rigor e liberdade, no bater das asas vás para cada lado
da fuga sobre os rios, sobre os silvos, sobre os vidros da paisagem, sobre
os cantos de ar e chuva, sol e lua, nas linhas enroladas de estridentes 
trinos, sois as nuvens, no sistema das aves, no manejo
das aves e das árvores cromáticas e tristes, a dupla revoada, o ricercare: é quando
as aves brancas voam para a noite que, no avesso,
voam para o dia as aves 

Vasco Graça Moura negras e , onde se cruzam, cinzentas.

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