«Naquele
momento, teria sentido uma alegria muito enganadora ao pensar que o meu desejo,
a satisfação do meu desejo forneceria uma prova evidente da minha
impossibilidade de sentir o amor. Mas a carne traiu-me: aquilo que o meu
espírito queria, o meu corpo fê-lo no seu lugar. Achei-me desta maneira perante
uma nova contradição. Falando um pouco vulgarmente, diria que, convencido de
nunca vir a ser amado, limitara-me a sonhar acerca do amor; e que, finalmente
substituíra o amor pelo desejo, facto que me trouxera a paz. Mas subitamente
descobri que o próprio desejo exigia de mim o esquecimento das minhas condições
de vida, o afastamento da única barreira entre o amor e eu: a certeza de nunca
vir a ser amado. Julgara o desejo uma coisa muito mais límpida do que é na
verdade, não suspeitara minimamente de que ele nos obrigava, por muito pouco
que fosse, a ver-nos sob uma luz de sonho.»
Excerto de "O Templo Dourado",
de Yukio Mishima,
Tradução de Filipe Jarro,
Edição:
Assírio e Alvim, 1985
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