Saint-John Perse, pseudónimo de Alexis Leger (Pointe-à-Pitre, 31 de maio de 1887 — Giens, 20 de setembro de 1975) poeta e diplomata francês.Recebeu o Nobel de Literatura de 1960.
Anabase
Fragmentos de Anabase
Estabelecendo-me com honra sobre três grandes estações, auguro bem do solo onde fundei a minha lei. As armas na manhã são belas e o mar. Exposta a nossos cavalos, a terra sem amêndoas traz-nos este céu incorruptível. E o sol não é sequer nomeado, mas o seu poder está entre nós e o mar na manhã como uma conjectura do espírito.
Poder, tu cantavas nas nossas estradas nocturnas!... Nos idos puros da manhã que sabemos nós do sonho, nossa procedência? Por mais um ano ainda entre vós! Senhor do grão, senhor do sal, e a coisa pública sobre justas balanças! Nunca chamarei por gentes doutra margem. Não traçarei nunca grandes bairros urbanos pelas encostas com o açúcar dos corais. Mas tenciono viver entre vós. No limiar das tendas inteira glória! a minha força entre vós! e a ideia pura como um sal faz-se pública em pleno dia.
Parado o meu cavalo sob a árvore que arrulha, lanço um assobio mais puro... E paz àqueles que, se vão morrer, não chegaram a ver este dia. Mas de meu irmão, o poeta, tivemos nós notícias. Mais uma vez escreveu uma coisa muito doce. E alguns tiveram dela conhecimento...
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estreitos são os navios
fragmentos
I
…Estreitos são os navios, como estreito o nosso tálamo. Imensa a extensão das águas, mais vasto o nosso império Nas câmaras cerradas do desejo.
Entra o Verão, que vem do mar. Somente ao mar diremos Os estrangeiros que fomos nas festas da Cidade, e qual o astro subindo das festas submarinas Que veio uma noite, sobre o nosso tálamo, farejar o leito do divino.
Em vão a terra próxima nos vai traçando a sua fronteira. Uma única vaga através do mundo, uma única vaga desde Tróia Até nós vem rolando a sua anca. No muito grande largo, ao largo, longe de nós, outrora este sopro se imprimiu... E uma noite nas câmaras foi imenso o rumor: a própria morte, nem ao som de búzios, de modo algum aí se faria ouvir!
Amai os navios, ó pares apaixonados; e o mar alto no interior dos quartos! Uma tarde a terra chora os seus deuses, e o homem dá caça às feras ruivas; as cidades usam-se, as mulheres sonham... Que exista sempre à nossa porta Esta alvorada imensa chamada mar — escol de largas asas e levantamento armado, amor e mar do mesmo leito, amor e mar no mesmo leito —
e de novo este diálogo dentro dos quartos:
saint-john perse estreitos são os navios (fragmentos) vozes da poesia europeia III traduções de david mourão ferreira |
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